domingo, 25 de julho de 2010

Com lenço e com documento Movimentos estudantis trocam as “guerras” pela paz ao longo da história

Com lenço e com documento 
Movimentos estudantis trocam as “guerras” pela paz ao longo da história



Estudantes com identidade social controversa e acomodados às grandes manifestações. Esse é o perfil dos jovens universitários de hoje. Sem um referencial opressor como a ditadura, os ideais de outrora já não são mais os mesmos. A força do movimento estudantil, que com suas reivindicações, protestos e manifestações influenciaram os rumos da política nacional, ficou para trás. 
Segundo pesquisa realizada pelo Projeto Juventude/Instituto Cidadania, em parceria com o Instituto de Hospitalidade e com o SEBRAE, os jovens contemporâneos chamam atenção pela indeterminação, pela conduta ponderada, por desconsideração de mudanças na política, despreocupação em alterar as desigualdades e pela pouca participação na política convencional. 

Foi depois de muita luta, entretanto, que surgiu este aparente comodismo. A história da juventude brasileira está relacionada a grandes feitos, movimentos revolucionários, lutas por ideais e busca do poder jovem em concretizar suas utopias. 

Na década de 1950, em clima de pós-guerra, falava-se na falta de sentido da rebeldia dos jovens. Para a estudante de Rádio e TV Gisele Castro, o rótulo que a juventude recebia restringia seus verdadeiros ideais: “chamar os jovens de rebeldes sem causa é ter uma visão simplista e limitada, pois essa rebeldia existiu em função da luta por grandes causas”, sentencia a estudante. 

Na década de 1960, o rótulo mudou. De rebeldes sem causa, os jovens passaram a ser conhecidos por movimentos políticos ditos “engajados”. Em 1963 e 1964, os estudantes foram responsáveis pelos mais importantes momentos da agitação cultural da história do Brasil. Através do Centro Popular de Cultura (CPC) produziram filmes, peças de teatro, livros, músicas, e influenciaram toda uma geração. 

Com o golpe militar, os estudantes formaram uma resistência, expressando-se por meio de jornais clandestinos, manifestações e músicas, apesar da grande repressão. O Tropicalismo, por exemplo, sacudiu o ambiente da música popular e da cultura brasileira entre 1967 e 1968. Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Tom Zé, entre outros, fizeram história renovando radicalmente as letras de músicas, que tratavam do que não podia ser dito, em função da censura dos militares. 
Outra grande marca da juventude nessa época foi a literatura. O jornalista e escritor Zuenir Ventura, relata, no livro 1968 O ano que não terminou, que a geração de 1968 talvez tenha sido a última geração literária do Brasil, pelo menos no sentido em que seu aprendizado intelectual e sua percepção estética foram forjados pela leitura. “Os rapazes e as moças já tinham grande preferência pelo cinema e pelo Rock, mas suas ideias tinham sido construídas basicamente por livros”, diz o escritor. 
Segundo o filósofo José Américo Pessanha, essa foi a “última geração loquaz, em que uma formação altamente literatizada lhe deu o gosto da palavra argumentativa”. Essa palavra argumentativa ressoava em alto e bom tom, em forma de palavrões. Esses termos estavam na boca dos jovens. Nelson Rodrigues dizia: “há ou não, por todo o Brasil, a doença infantil do palavrão?” Era a força das lutas e dos hábitos dos estudantes extravasados pela língua falada. 

No fim da década de 1970, o movimento estudantil começou a perder força e prestígio. Desde então, existiram alguns movimentos, como as “Diretas Já”, em 1984, e os “Caras Pintadas”, em 1992, promovendo sucessivas ações contra o governo Collor, que resultaram em seu impeachment. “Desde o fim do período militar, as forças jovens têm declinado de maneira significativa. Mas o importante é que houve um processo de auto-afirmação da adolescência como entidade social e cultural”, afirma o filósofo, historiador e sociólogo Edgar Morin, em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo.

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